Publicado pelo G1
Jovem, moradora de Piracicaba, está na fila para a mudança de sexo.
Riany Rodrigues Sabará já se vê como mulher, mas sofre preconceito.
Um dos maiores desejos da agente de prevenção Riany Rodrigues Sabará, de
21 anos, é ganhar uma flor no Dia Internacional da Mulher, comemorado
neste sábado (8). A entrega de rosas é algo corriqueiro em ambientes de
trabalho e até nas ruas durante a data, mas a jovem nunca foi
presenteada. Riany é transexual e se prepara para a fazer a readequação
genital, conhecida como cirurgia de troca de sexo. Apesar de se encarar
como uma mulher, ela ainda enfrenta a falta de compreensão das pessoas
quando o assunto é identidade de gênero.
Desde outubro de 2012, Riany sai de Piracicaba (SP), onde vive e
trabalha, e vai a São Paulo (SP) todas as sextas-feiras para receber
tratamento psiquiátrico e psicológico no Hospital das Clínicas pela
primeira fase de preparação para a cirurgia, que ainda não tem data para
acontecer. Nesta etapa, os transexuais passam por consultas e
discussões em grupo sobre o desejo de realizar a cirurgia, traumas e
tudo que envolve o processo de alteração dos órgãos genitais.
"Desde os 17 anos procuro maneiras de realizar a cirurgia e há dois anos
consegui o tratamento, mas não tem sido fácil. Depois do período com os
psicólogos, vou passar pela parte física com o uso de hormônios para
interromper a produção hormonal masculina e colocar a feminina no lugar e
depois virá a cirurgia", contou.
Para Riany, a cirurgia irá apenas "oficializar" a sua identidade. "Já me
sinto uma mulher desde que nasci. Quando eu era pequena, olhava no
espelho e não reconhecia o garoto no reflexo como sendo eu. Acho que
depois da cirurgia ninguém mais vai poder me impedir de ir ao banheiro
feminino, não vão usar mais o meu nome de batismo nas repartições
públicas e nem dizer que não sou mulher", disse.
A mãe, segundo Riany, é uma das pessoas que mais apoia o processo que
antecede a cirurgia. "Ela criticava, mas aí um dia eu falei pra ela:
'imagina se você tivesse um pênis no meio das pernas? É assim que eu me
sinto.' Depois disso ela começou a me ajudar com passagem e até mesmo
com dinheiro para as viagens", contou.
Riany trabalha na Organização Não-Governamental Centro de Apoio e
Solidariedade à Vida (Casvi) no projeto Esquinas da Noite, que faz
trabalho de prevenção com garotas de programa (travestis, transexuais,
homens e mulheres). Antes da instituição, já foi faxineira e babá. Com o
dinheiro das limpezas ela fez a primeira modificação corporal efetiva,
quando colocou silicone nos seios.
Preconceito
O banheiro é, segundo Riany, uma das maiores "resistências" do
preconceito na sociedade. Desde a época da escola, quando passou a usar
roupas e acessórios femininos, a jovem protagoniza discussões pelo
simples fato de usar o banheiro. "No colégio, eu usava o banheiro
feminino escondida e ainda hoje tenho problemas para usar banheiros
públicos. Eu fui faxineira dos terminais de ônibus e entrava e saía dos
banheiros. Depois que mudei de emprego, os guardas não me deixam mais
entrar no feminino. É uma humilhação", disse.
A perseguição na escola, a resistência e a indiferença de familiares e o
preconceito nas ruas já fizeram a transexual até mesmo pensar em
suicídio na adolescência. Apesar de não pensar mais na morte como
alternativa, ela ainda considera difícil se "encaixar no mundo". "Às
vezes eu penso que nesse mundo não tem lugar pra mim. Em lugar nenhum."
Dia da Mulher
Riany contou que chega a ser parabenizada no 8 de março, mas nunca
recebeu flores. O gesto, aliás, nunca aconteceu com ela nem mesmo em
outras ocasiões. "Quem não gosta de flores? Mas eu nunca tive uma
relação séria, é muito difícil para um homem assumir que namora uma
trans, pois eles se importam muito com a opinião dos outros."
FONTE: PAROU TUDO
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