"O
movimento feminista mais importante na história é o movimento dos
quadris." Piadas típicas de cursinho pré-vestibular como essa correm risco
de extinção.
As direções de instituições preparatórias frequentadas pela
classe média alta paulistana têm orientado professores a suspender comentários
jocosos para evitar processos.
Alunos e especialmente alunas têm reclamado do que
consideram machismo, homofobia e racismo aos pais, que cobram explicações.
"Virei chato. Não faço mais brincadeiras. Minhas aulas
estão terminando mais cedo. Passo exercícios a mais", diz um professor do
Intergraus que não quis ser identificado.
Um professor do Anglo diz que é brincadeira entre os
meninos chamar os professores de "bicha" e "veado". No
início de 2014, ele passou de sala em sala para informar: "Se eu for
conivente, como sempre fui, estarei permitindo que vocês usem a palavra gay com
sentido pejorativo. E não tem. Não permito mais".
Para ele, o tema é tabu. "Entre 80 pessoas entenderem
que é brincadeira e 20 acharem que você está incentivando alguma coisa, é
melhor não fazer piada. O incrível é que, dez anos atrás, você podia contar
piada de preto, de português. Ao mesmo tempo, era inimaginável ter dois meninos
se beijando no cursinho como temos agora."
"Eu, três meninas e um menino saímos da sala quando o
professor falou que, se quiser 'comer' a empregada, o cara tem que levá-la ao
Habib's. Ele sempre fala que pobre adora Habib's", conta Julia Castro, 19,
aluna do Anglo de Higienópolis. "Essas brincadeiras reforçam o preconceito.
Nossa luta já é difícil."
Adolpho Mayer, 18, disse que se indignou. "Isso é
discriminação de classe."
No
aniversário de uma estudante no ano passado, meninos sortearam quem a beijaria.
A aniversariante não consentiu, mas disse às amigas que foi obrigada pelo
professor a ceder.
O professor, na condição de anonimato, admite que entrou na
brincadeira: "Falei 'quem vai ser o felizardo?' Mas outra estudante
protestou: 'Mulher não é objeto para ser sorteada'. Eu então pedi desculpas e
passei a repudiar a brincadeira".
Para Clara, 18, que fez Intergraus em 2013 e hoje cursa
arquitetura na USP, "o humor que oprime alguém não merece a risada de quem
assiste à aula". "Não digo que não se deve fazer piadas. Mas que
estas sejam inteligentes o suficiente para tirar sarro do opressor, e não do
oprimido."
Jorge Ovando, gerente de marketing do Intergraus, afirma
que as queixas, em geral, são fruto de má compreensão. "A instrução é não
brincar." Luís Ricardo Arruda, coordenador-geral do Anglo, conta que a
recomendação é tratar os alunos "com respeito". "As piadas têm
que ser adaptadas a seu tempo."
Fonte: Folha de São Paulo
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