Tia diz que rapaz não teve dificuldades em comprar produto industrializado. Após 12 dias em UTI, ele não resistiu e morreu; cirurgião alerta para riscos.
A família do
analista de laboratório Marcos Paulo Batista dos Santos, 34 anos, que
morreu no sábado (8) após aplicar silicone industrial nos braços, faz um
alerta sobre os riscos do uso desse produto. “Meu sobrinho não teve
dificuldade em adquirir o silicone. Ele era lindo e não precisava disso,
mas acabou morrendo por uma bobagem. As pessoas devem ficar atentas”,
disse a tia do rapaz, a técnica em radiologia Amélia Batista dos Santos.
O
companheiro de Marcos Paulo, que não quis se identificar, contou que
foi a própria vítima quem aplicou o silicone nos braços. “Ele chegou em
casa com o produto no último dia 22. Após a aplicação, começou a passar
mal e corremos para o Cais [Centro de Assistência Integral à Saúde] Vila
Nova, mas não tinha médico. Aí seguimos para o Cais Guanabara”,
relatou.
Após
ser atendido, o analista de laboratório foi encaminhado ao Hospital de
Urgências de Goiânia (Hugo), no dia 23. “Lá, nos disseram que iriam
aplicar morfina para a dor e nos mandaram para casa. Mas as dores
continuaram e tive que voltar com ele para o médico. No dia seguinte,
fomos ao Cais Vila Nova e mais uma vez ele foi medicado e liberado”,
contou o companheiro da vítima.
Marcos
Paulo continuou sentindo dores e procurou atendimento no mesmo dia no
Cais Campinas. “Lá, finalmente, um cirurgião o avaliou e disse que era
caso de cirurgia. Aí nos mandou para o Hugo, onde ele foi internado e
aguardava pelo procedimento”, disse. O analista de laboratório passou 12
dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu.
Ao
G1, o Hugo informou que o paciente foi atendido no local no último dia
23, com quadro de formigamento e vermelhidão nos braços. Após ser
medicado, ele foi liberado. No dia seguinte, os sintomas permaneceram e
ele retornou ao Hugo, onde foi internado na UTI. O hospital diz que as
causas da morte ainda serão constatadas pelo Instituto Médico Legal
(IML).
Para
a tia da vítima, se o sobrinho tivesse sido atendido rapidamente, o
desfecho do caso poderia ser outro. “Eles deveriam ter aberto o braço
dele logo no primeiro dia, pois aí o produto não teria se espalhado.
Desde o começo, os médicos sabiam que se tratava de silicone industrial e
não deram a devida atenção”, lamentou Amélia.
Procurada
pelo G1, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que, desde o
primeiro dia de procura, Marcos Paulo foi atendido e referenciado para
uma unidade de saúde de alta complexidade, no caso o Hugo. A SMS
ressaltou, ainda, que as unidades da rede municipal, com exceção das
maternidades, fazem apenas os atendimentos denominados como secundário
de atenção ambulatorial e pequenos procedimentos cirúrgicos.
Perigos
De
acordo com a Polícia Civil, o material injetado nos braços pelo rapaz é
normalmente usado na limpeza de carros e na impermeabilização de
azulejos, sendo assim, impróprio para o uso em humanos. Familiares
disseram à polícia que Marcos Paulo já tinha aplicado silicone nas
pernas há cerca de dois anos.
O
cirurgião plástico Pedro Tormin alerta para os riscos da aplicação do
silicone industrial (veja vídeo acima). “Essa substância não é pura, não
é um silicone usado para fins médicos, e isso gera riscos de infecções e
até mesmo de embolização”, disse. Segundo o especialista, o produto
pode entupir as veias. “Ele pode migrar para os vasos sanguíneos e
obstruí-los. Com isso, causa necrose das extremidades e até do pulmão”,
explicou.
Tormin
disse que o silicone industrial é proibido para uso médico. “No
entanto, esse produto é muito usado para usos domésticos, como vedação e
fabricação de adesivos, e as pessoas acabam adquirindo e usando de
forma irregular”, afirmou.
O
médico alerta que a aplicação de silicone só deve ser feita por um
profissional. “Os materiais usados para fins de estética são avaliados e
aprovados pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e os
cirurgiões passam por especializações para fazer o manuseio com
segurança”, ressaltou Tormin.
Fonte: G1
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