A Diretoria da Empresa
Brasil de Comunicação (EBC) apresentou ao Conselho Curador, durante a 58ª
Reunião Ordinária do colegiado, mudanças que estão sendo realizadas na
programação dos veículos da casa (confira
os slides usados durante a apresentação). As novidades
passam por novas estratégias de produção de conteúdo para seus veículos web,
mas dizem respeito, principalmente, a ajustes da grade da TV Brasil.
Durante a reunião, que
aconteceu no último dia 07 de outubro, Asdrúbal Figueiró, novo diretor-geral da
EBC, explicou que a mudança, que já foi ao ar desde o dia 05 de outubro, se
trata mais de um ajuste de grade. “Ela foi feita com estoque e alguns programas
que já estavam chegando. Não tivemos grande impacto no orçamento”, afirmou. Com
isso, a faixa infantil aumenta para 41h semanais, boletins de jornalismo foram
incluídos durante a programação, o jornal Repórter Brasil Noite fica mais
enxuto e os noticiários locais aumentam em 15 minutos sua duração. Além disso,
programas consagrados como o Sem
Censura ganharam
novos horários e inaugurou-se uma faixa de teledramaturgia na emissora. Os
programas Fique ligado, República do Peru e Guilhermina
e Candeláriochegam na casa, enquanto outros como o Para Todos saem da grade. O visual da
emissora também foi modificado para cores mais vivas, que conversam com a
identidade dos sites da EBC.
“A mudança mais polêmica é a
ida da faixa de reflexão para 23h, mas todo esse exercício foi na busca de
termos uma grade mais fluida, em que um programa leve audiência para o próximo
e as faixas estejam mais bem definidas. Por isso, acho que não vamos perder
audiência”, justificou Asdrúbal. Segundo o diretor, há um movimento na televisão,
como um todo, que está levando o horário nobre para o final da noite. “Com essa
mudança, também teremos mais emissoras da rede conosco na exibição da faixa”,
complementou.
Todas essas alterações foram
pensadas por um Grupo de Trabalho formado, em sua maioria, por gestores das
diretorias Geral, de Conteúdo e Programação, de Jornalismo, de Produção e pela
área de Negócios da EBC. O grupo decidiu, ainda, pela volta da novela angolana Windeck para a grade da TV Brasil, dessa vez,
mais cedo. “É um novo horário, então acreditamos que vamos conversar com outro
público. Queremos fidelizar esse público para depois apresentar conteúdos
novos, como mais uma novela angolana e outras da América Latina, que estamos
prospectando”, disse Asdrúbal.
Para a faixa das 22h, a
empresa programou conteúdos de cultura, direcionados a um público amplo no que
se refere à faixa etária e condição social. “Vamos tentar fazer parcerias com a
Rede Nacional de Comunicação Pública para manter o Paratodos na grade, porém, feito a partir das
emissoras parceiras”, anunciou Asdrúbal. O diretor adiantou, por fim, que a
empresa ainda estuda melhorias em outras faixas de programação. “A gente acha
que ainda tem uma parte da faixa noturna que precisamos trabalhar melhor –
compreendida entre o Sem
Censurae o Fique Ligado – e a grade do fim de semana”.
O diretor-presidente da EBC,
Américo Martins, informou também que a cantora Adriana Calcanhoto foi
contratada para apresentar a faixa infantil da TV Brasil, com interprogramas
que permeiam toda a faixa voltada para crianças. Além disso, a emissora
estreará nos próximos meses um programa de debates voltado à temáticas LGBT.
“No que se refere à dramaturgia, queremos tentar fundos do Ministério da
Cultura para fazer novelas brasileiras, porque não temos recursos na casa para
isso”, falou.
Os conselheiros
parabenizaram a Direção pelas mudanças realizadas e ponderaram algumas
questões. “Me incomoda muito essas séries importadas. Esse país tem uma
história maravilhosa e as pessoas querem conhecê-la. Não é possível que a EBC
não possa produzir séries, mesmo pequenas, do ponto de vista da história e da
cultura desse país. Por que temos que contratar algo da Angola?”, disse Heloisa
Starling. A conselheira explicou que não é contra a compra de produtos
estrangeiros, ainda mais se tratando daqueles que valorizam a África, uma das
matrizes da formação cultural do Brasil, porém, acredita que toda programação
deva ser trabalhada dentro de uma linguagem e estética brasileira de qualidade.
Joel Zito, também
conselheiro, saudou o que ele considera uma dinamização necessária na TV
Brasil. “Gosto da tendência do que se aponta, no sentido de se tornar uma TV
mais moderna, encontrando o público e sinto uma intencionalidade de encontrar a
audiência negra, especificamente”. Ele sugeriu que fosse inaugurada uma faixa
exclusiva voltada para questões raciais, uma vez por semana, durante os
programas de reflexão. “Uma das noites tinha que ser uma faixa para discussão
da questão racial no Brasil e para o fortalecimento da identidade negra”. Além
disso, aconselhou que a faixa da manhã e da tarde, hoje destinada integralmente
ao público infantil, buscasse alcançar também pessoas que ficam em casa nesse
horário, como donas de casa. “Acho, ainda, que deveríamos tentar fazer o
lançamento de filmes nacionais na TV Brasil. Por meio de parcerias com a
Ancine, poderíamos negociar para que a primeira janela de exibição depois dos
cinemas seja a TV Brasil, comprando essa primeira exibição”.
A conselheira Rosane
Bertotti questionou a Direção sobre a participação dos funcionários da casa nas
definições da nova programação. “Quando você falou sobre o GT para mudanças na
grade, a impressão que eu tive é que ele foi formado só de chefias. Houve mais
participação dos trabalhadores? Existe uma dificuldade de diálogo na casa, e é
preciso construir espaços para dirimir essa dificuldade”, recomendou.
Eliane Gonçalves, também
conselheira, reforçou a importância da participação dos empregados na produção
da EBC. “Vejo que existe um trabalho de acabar com os castelos, as divisões
dentro da empresa, integrando veículos de uma mesma plataforma, além de
conteúdos e linguagens, a partir de um trabalho mais conjunto. Se estamos
conseguindo derrubar castelos, espero que consigamos construir pontes. O
sentimento que eu trago dos trabalhadores é que não estamos sabendo das
mudanças e que é muito ruim não ter participação”, disse.
Seu colega no colegiado,
Endeson Araújo, chamou a atenção para a, ainda, pouca presença de pessoas
negras na tela da TV Brasil. “Sobre Guilhermina
e Candelário: precisamos fazer mais crossmídia. Levar esse desenho para
exibição em escolas, fazer parcerias com secretarias de educação, coletivos e
comunidades. Me pergunto, ainda, onde é que está a juventude dentro da
programação da EBC? Onde está a cultura de periferia, o funk, o rap... Sinto
que terei que falar isso toda reunião do Conselho”, cobrou.
Letícia Yawanawá,
conselheira, lembrou que, assim como a juventude negra, vários jovens indígenas
têm produzido comunicação e incentivado suas comunidades a expressarem sua
cultura por meio de iniciativas que ainda não ganharam visibilidade. “A
diversidade que a EBC tem trazido, faz com que a gente já se sinta um pouco
contemplado. E isso é tão bonito: saber que não é só um slogan de ‘viver sem
preconceito’, não está só no papel, mas poder ver isso sendo representado na
TV”.
Rita Freire, vice-presidenta
do Conselho, diante das mudanças oferecidas, destacou a importância de se
definir uma estratégia clara para compra de produtos externos e de oferecer
conteúdo complementar dentro do sistema de comunicação brasileiro. “Considero
muito interessante a iniciativa de colocar nosso jornal no horário da novela e
a nossa novela no horário de um jornal – é ousado, mas para isso é preciso que
nosso conteúdo traga diferencial em relação ao que é oferecido pelas emissoras
comerciais”.
Apresentação TV Ines
Durante a 58ª Reunião
Ordinária a TV Ines, primeira webTV em Língua Brasileira de Sinais (Libras),
com legendas e locução, apresentou ao Conselho Curador da EBC seu trabalho na
produção de programação voltada a pessoas com deficiência. Após uma visita de
representantes do Conselho na sede da emissora, a EBC está em busca de
estabelecer parcerias para compra de produtos e capacitação para produção de
conteúdo acessível.
Joana Peregrino, gerente da
TV Ines, contou que a emissora é um projeto concebido por ouvintes e surdos.
“Nisso vemos um resultado efetivo, porque os surdos contribuíram desde o início
com opiniões para que os conteúdos fossem acessíveis. Nossa programação foi
feita de forma que os ouvintes e os surdos possam acompanhar tudo, juntos.
Nosso fluxo de produção é complicado porque somos uma televisão bilíngue, mas
no final, temos a qualidade de uma programação totalmente acessível”.
A emissora é veiculada pela
internet e via parabólica, disponibiliza 11 programas, de temáticas
diversificadas, todos apresentados por pessoas surdas. A estética, cores e
marcas foram pensadas em conjunto com a comunidade surda e apresentam uma
linguagem sem muita distração visual.
Clarissa Guerretta,
apresentadora e repórter do canal, explicou ao pleno, em Libras e com a ajuda
de uma intérprete, o histórico da comunidade surda com a tecnologia no Brasil.
“As tecnologias de comunicação ajudam muito o desenvolvimento dos surdos. Eu já
fui em outros países e vi como eles são mais acessíveis, todos os programas de
TV têm legendas, a janela com libras é maior... Por isso, tenho orgulho de
trabalhar na TV Ines, pois quando comecei lá, vi que estava se abrindo um campo
de informações para os surdos no Brasil”, compartilhou.
A conselheira Ana Veloso
ressaltou a necessidade de que toda comunicação pública se espelhe no modelo de
comunicação acessível da emissora e realize laboratórios para explorar essa
linguagem. “Isso é algo que a EBC tem a potencialidade de fazer, em diálogo com
o projeto de pesquisa com as universidades, pela Escola Nacional de Comunicação
Pública. A discussão da acessibilidade faz parte do futuro do jornalismo. A lei
de acessibilidade diz que os serviços de radiodifusão devem oferecer conteúdo
para toda sociedade e devemos fazer com que essa lei seja realidade”, cobrou.
Após a apresentação, Ana
Fleck, presidenta do Conselho Curador, se comprometeu com a inclusão de um(a)
intérprete de libras na transmissão ao vivo das atividades do colegiado, a
partir do próximo mês. Américo Martins, por sua vez, informou que conversaria
com a Direção da TV Ines, ainda no dia 07 de outubro, para viabilizar parcerias
com a emissora. “Informo também que vamos transmitir os jogos paraolímpicos no
próximo ano e isso vai acontecer da forma mais acessível possível”,
comprometeu-se.
Aprovações
O pleno aprovou, ainda
durante a última reunião, encaminhamentos relativos às discussões realizadas
durante o Seminário Modelo Institucional da EBC, realizado durante os dias 11 e
12 de agosto, na sede da empresa, em Brasília. As resoluções aprovadas
determinam que a EBC crie mecanismos para favorecer as diferenças estruturais
entre o que se produz para os seus veículos e para prestação de serviços, como
mudanças de logotipos unificados; e que a Diretoria da empresa encaminhe para o
Conselho Curador um projeto que defina estratégias, objetivos e diretrizes para
cobertura colaborativa de jornalismo e demais produtos.
Além disso, recomendações,
resoluções internas e pedidos de informação foram aprovados e contemplam
questões como cargos comissionados, estratégia de marketing e articulação
política da EBC, criação de laboratórios de inovação e atribuições das Câmaras
Temáticas e de todo o Conselho. Um Regimento Eleitoral para eleição da
presidência e vice-presidência do colegiado também foi aprovado pelo pleno.
Após alterações nas minutas, o Regimento e os documentos decorrentes do
Seminário serão publicados no site do Conselho Curador.
O órgão deferiu, ainda, a publicação
de moções de apoio à campanha “Inclui Comunicação Pública” e pelo
fortalecimento e permanência do programa A
Voz do Brasil.
Ouvidoria
Joseti Marques,
ouvidora-geral da EBC, informou ao Conselho a volta dos programas da Ouvidoria
para as grades de programação das Rádios EBC e TV Brasil, a partir do dia 26 de
outubro. “Serão cinco programetes de 3 minutos, que serão exibidos em horários específicos,
e servirão como informação pedagógica para o público, além de colaborar na
missão da EBC e divulgar o trabalho da Ouvidoria. Os programas foram produzidos
na linguagem do público que estará acompanhando o veículo no momento da
exibição”, explicou Joseti.
A ouvidora participou o
Conselho sobre a volta da publicação da Coluna da Ouvidoria, prevista em Lei,
na Agência Brasil, após ajustes no site. O órgão criou também um perfil do
Twitter e um e-mail direto para contato com o público.
Joseti apresentou, ainda, o
Relatório bimestral da Ouvidoria. “Pontuamos que o jornalismo da EBC continua
pendular, tímido. Não entendemos que há uma orientação para uma cobertura à
esquerda ou à direita, mas há uma indefinição de linha editorial, o que leva a
uma insegurança de como cobrir as questões. O oficialismo segue a mesma lógica
de indefinição de linha editorial. Estamos inaugurando nosso jornalismo
efetivamente público, que ainda não se encontrou”, afirmou.
Eliane Gonçalves comentou o relatório pontuando
dúvidas. “Sobre futebol: quanto de nossa grade está sendo ocupada por esse
esporte? Como vamos dar conta dos problemas na cobertura já relatados várias
vezes, com tanto futebol na tela agora? Ressalto também o oficialismo relatado
no Caminhos da Reportagem: ver isso num programa como esse me deixa
assustada. Oficialismo não serve a ninguém, pois perdemos credibilidade com
isso”. A conselheira questionou, por fim, a estratégia da EBC detransição para
o sistema digital de rádio, os critérios para apuração de erros jornalísticos
da casa e a execução de uma entrevista jornalística com um ‘justiceiro’ do Rio
de Janeiro. “O critério para colocar a fonte foi jornalístico, mas o resultado
foi preocupante e vi a opinião de uma telespectadora no relatório da Ouvidoria
que falou o mesmo”.
Informes
Américo Martins deu informe ao Conselho sobre uma
reunião realizada com representantes dos programas católicos que estão no ar na
TV Brasil e que estão em fase de negociação para composição da segunda etapa da
Faixa da Diversidade Religiosa da emissora. “Fomos muito bem recebidos em
reunião com entidades religiosas – já acordamos o fim do financiamento dos
programas pela EBC”.
A Direção informou, ainda, que está negociando com
a prefeitura do Rio de Janeiro a destinação do edifício A Noite, antiga sede da
Rádio Nacional e, parcialmente, patrimônio da empresa. “A prefeitura está em
articulação com um investidor externo, que compraria o edifício e daria
contrapartida para EBC. Estamos a favor de qualquer solução que contemple um
centro de memória da EBC naquele lugar. A negociação ainda não se iniciou, mas
o principal é o restauro do edifício e existe a intenção de recuperação do
acervo presente ali”, esclareceu Sylvio Andrade, vice-presidente da EBC.
Texto: Priscila Crispi (jornalista da Secretaria
Executiva do Conselho Curador).
Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: Conselho Curador
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