A campanha "Sou Trans e Quero Dignidade e Respeito" foi criada por três mulheres transexuais, cansadas do desrespeito a seus direitos e da falta de atitude do governo. É possível participar enviando vídeos em apoio
Três
mulheres transexuais uniram-se para gritar contra a transfobia. Juntas,
sem ajuda de nenhum partido, empresa ou ONG, começaram a campanha
nacional "Sou Trans e Quero Dignidade e Respeito". "A campanha não é
institucional, é das mulheres travestis e transexuais cansadas do fato
de o próprio Estado não fazer a sua parte", diz Renata Peron, uma das
idealizadoras.
A ideia para a campanha veio logo
após deputados reunirem-se contra a Resolução 12 (leia mais sobre essa
resolução abaixo), que reconhece direitos de travestis e transexuais em
boletins de ocorrência, documentos de identidade, banheiros e outros
espaços.
Após a reação contrária dos deputados, a cantora e
militante LGBT Renata Peron, 38, entrou em contato com duas amigas para
iniciar um movimento. Juntaram-se a ela Ângela Lopes, 39, chefe da
Divisão de Políticas para Diversidade Sexual da Prefeitura de São
Carlos, e Agatha Lima, 45, conselheira estadual LGBT e presidente da ONG
Asgattas, de Ribeirão Preto.
Lopes explica que a
inquietação com a identidade não é recente: "No decorrer da vida,
ficamos em uma luta constante para tentar nos afirmar dentro da
sociedade de acordo com o nome e a identidade que escolhemos. Quando a
identidade é negada, a rejeição se acentua".
Veja na galeria abaixo imagens das idealizadoras da campanha e de pessoas que as apóiam:



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Nós percebemos a necessidade de mostrar para o governo que somos uma população expressiva (Ângela Lopes)
O objetivo das três é reunir todas as gravações
obtidas e apresentar à ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, em
Brasília, para pressionar pela criação de uma legislação que proteja a
identidade de gênero.
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A população se incomoda quando encontra transexuais antes das
18h, as pessoas acreditam que essas pessoas só podem ser vistas à noite
(Agatha Lima)
"Nós vamos gritar até que alguém nos ouça. Essa
campanha foi uma forma de pedir socorro à população brasileira, mostrar
que nós também existimos", diz Agatha Lima. Para ela, a luta é pela
inclusão e pela aceitação. "A população se incomoda quando encontra
transexuais antes das 18h, as pessoas acreditam que essas pessoas só
podem ser vistas à noite", diz.
Para
muitos transexuais, a luta é pelo direito ao uso do nome social (em vez
do nome de batismo). Ângela Lopes conseguiu mudar seu nome, mas conta
que o processo é muito burocrático. "Você precisa entrar com ação
judicial e provar que esse nome faz parte da sua vida. Conheci muitas
meninas que tiveram o pedido negado".
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Para mudar de nome você precisa entrar com ação judicial e
provar que esse nome faz parte da sua vida. Conheci muitas meninas que
tiveram o pedido negado (Ângela)
Lopes lembra ainda que o desemprego e a necessidade
de recorrer à prostituição e a trabalhos informais é comum na
comunidade. "Eu represento uma minoria de mulheres transexuais que estão
inseridas no mercado formal de trabalho", diz ela, sobre sua posição na
prefeitura de São Carlos.
Como participar?Para fazer parte da campanha, basta entrar em contato pela página Sou Trans e Quero Dignidade e Respeito no Facebook. Não é necessário pertencer à comunidade LGBT para participar. Todos podem participar gravando um vídeo de apoio.
Saiba mais sobre a Resolução 12
No último dia 12 de março, foi publicada a Resolução 12 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, da Secretaria de Direitos Humanos. A resolução define, entre outros pontos, o direito ao uso do nome social em boletins de ocorrência registrados por autoridades policiais.
Nas escolas, a resolução estabelece o direito ao uso de banheiros, vestiários e demais espaços segregados por gênero, quando houver, de acordo com a identidade de gênero de cada um. Além disso, a resolução prevê a possibilidade do uso de uniformes, quando houver diferença entre modelos femininos e masculinos, conforme a identidade de gênero.
O advogado especializado em causas LGBT e colunista do iGay Dimitri Sales explica que a resolução não tem força de lei. Segundo ele, o Congresso Nacional teria de aprovar uma legislação que reconhecesse a identidade de gênero como direito fundamental para que mudanças efetivas fossem possíveis.
"O problema é que o governo federal não assume sua responsabilidade. O governo precisa assumir o compromisso pelos direitos de travestis e transexuais", afirma Sales. Mesmo não sendo lei, a Resolução 12 provocou protestos nas redes sociais e uma manifestação de deputados que são contra as medidas.
FONTE:IGAY
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