O dilema sobre sair ou não do armário no trabalho ainda aflige muitos gays, mas esconder a orientação sexual pode fazer o profissional ser visto com desconfiança pelos colegas. Veja histórias de homossexuais que passaram por essa situação
“No início, a preocupação em esconder a questão de todos era muito grande. Até porque na época o assunto era tratado de forma mais atrasada do que atualmente”, conta Caio, que está há 13 anos na empreiteira. No entanto, o administrador admite que a sua orientação sexual não era tão invisível quanto ele próprio imaginava. “Alguns amigos mais próximos do trabalho já sabiam que eu era gay, até mesmo antes de mim. Eles foram muito importantes no processo de me assumir”, explica.
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Depois
de falar do assunto com os colegas com os quais tinha mais proximidade,
Caio ganhou confiança para não se esconder mais. “Já tive vários chefes
e diferentes relações de trabalho. Para alguns, o assunto é tabu, mas
para outros, de cabeça mais aberta, a homossexualidade é tratada com
tranquilidade. Eu mesmo já consegui me abrir sobre o assunto com alguns
gestores que são assim”, observa o administrador de empresas.
O dilema vivido por Caio não é algo incomum. Assim como
ele, muitos homossexuais se questionam se devem ou não se assumir gays
no ambiente de trabalho. Para Georgete Lemos, diretora
de diversidade da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos),
falar a verdade é sempre a melhor opção. Do contrário, não se assumir ou
mentir sobre o assunto pode acabar afetando a credibilidade do
profissional.
“
Quando um funcionário gay omite sua orientação sexual ou até se
comporta como heterossexual, ele não está sendo verdadeiro com ele mesmo
e nem com os outros. Isso fatalmente vai gerar um clima de
desconfiança, o que pode levar a um afastamento dos colegas (Georgete
Lemos)
“Quando um funcionário gay, lésbica ou transexual
omite sua orientação sexual ou até se comporta como heterossexual, ele
não está sendo verdadeiro com ele mesmo e nem com os outros. Isso
fatalmente vai gerar um clima de desconfiança, o que pode levar a um
afastamento dos colegas, posteriormente”, analisa Lemos.
A
especialista acredita inclusive que a atitude de sair do armário
contribui para que o assunto seja tratado com mais naturalidade no
ambiente de trabalho. “Se você se sente confortável com sua própria
sexualidade, os outros também acabam ficando confortáveis quando a
diversidade é exposta”, avalia Lemos, acrescentando que esse gesto é
fundamental para quebrar preconceitos. “Você é gay, se comporta como
tal, o que na verdade não te faz essencialmente diferente dos outros.
Então, as pessoas vão percebendo isso e acabam se aproximando com
naturalidade”, completa ela.
Caio Boggis: "Alguns amigos mais próximos do trabalho já sabiam que eu era gay, até mesmo antes de mim"
Eleito pela revista Out como a personalidade gay mais poderosa dos Estados Unidos, o CEO da Apple, Tim Cook,
acredita que sair do armário não é positivo apenas para o funcionário
que adota essa atitude, mas também para empresa em que ele trabalha. Ao
escrever um artigo recente para o "The Wall Street Journal" defendendo a
aprovação de uma lei nos EUA contra a discriminação de funcionários por
gênero ou orientação sexual, Cook reafirmou essa ideia.
"Quando
as pessoas se sentem valorizadas por ser quem são, elas têm o conforto e
a confiança para fazer o melhor trabalho de suas vidas", escreveu Cook,
apostando não só no caráter humanitário de uma política de recursos
humanos em prol da diversidade, mas também no aspecto desta como
estratégia de negócios.
Para o chefão da bilionária e
admirada empresa de tecnologia, funcionários gays assumidos ficam mais à
vontade para ser mais criativos e produtivos. E, na ponta do lápis,
isso acaba significando mais lucro para as companhias que criam um
ambiente acolhedor aos trabalhadores homossexuais.
“
Quando as pessoas se sentem valorizadas por quem são, elas têm o
conforto e a confiança para fazer o melhor trabalho de suas vidas (Tim
Cook, CEO da Apple)
Metade do escritório é gay
No
escritório brasileiro da Zomato, uma multinacional que produz um
aplicativo de avaliação de restaurantes, os homossexuais não só são
respeitados como representam metade dos 22 funcionários da equipe. Um
dos empregados da companhia, o profissional de relações públicas Bruno Grimaldi, 25, hoje se sente confortável para falar de sua orientação sexual, algo que ele não experimentava num emprego anterior.“Eu não falava sobre o assunto. O que era uma forma
de lidar com a diversidade sexual sem mentir, mas nem por isso era uma
forma melhor”, reconhece Bruno, que enxerga uma impossibilidade de
evolução profissional na vida de quem não se assume. “Não faz sentido
progredir na carreira e regredir na vida pessoal”, constata o
profissional de relações públicas.
Colega de Bruno na Zomato, Mariana Cristtal,
26, nunca escondeu sua orientação sexual. Pelo contrário, ela deixou
claro que era lésbica desde o seu primeiro estágio. “Se uma empresa tem
problema com a minha sexualidade, eu é que tenho problema com a empresa,
antes de qualquer coisa”, defende a profissional, que é formada em
Relações Internacionais e trabalha na área de vendas.
Encontre aliados e não minta
Bruno
e Mariana têm conselhos a dar para quem vive o dilema de se assumir no
trabalho. “Se você acredita que em seu trabalho sua orientação sexual
não vai ser aceita, não precisa mentir e inventar uma vida que você não
vive”, aconselha ela.
O relações públicas recomenda que o
processo seja feito sem afobação. “Busque aliados, fale com as pessoas
próximas primeiro, não precisa fazer um comunicado dizendo que você está
se assumindo gay”, argumenta Bruno, lembrando que não é preciso contar
para todos os colegas de uma vez ou mesmo fazer da saída do armário um
grande evento.
“
Busque aliados, fale com as pessoas próximas primeiro, não
precisa fazer um comunicado dizendo que você está se assumindo gay
(Bruno Grinaldi)
Georgete Lemos indica que os funcionários entrem nos
sites das companhias para verificar a postura delas. “Veja se os valores
da empresa abordam a diversidade, muitas já contam com politicas em
relação à sexualidade. É claro que muitas vezes a missão não é posta em
prática, mas neste caso o problema é gerencial”, finaliza a especialista
em RH.
FONTE:IGAY
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