Vizinhos são suspeitos das agressões; jovem registrou uma delas em vídeo.
Após ataques, que começaram em novembro, rapaz se mudou de Brasília.
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Um estudante de direito de uma faculdade de Brasília denunciou em uma
rede social as sucessivas agressões homofóbicas de dois vizinhos, que
incluíam ameaças por telefone, empurrões e pichações na porta do
apartamento dele. Parte do último ataque, ocorrido na madrugada de
terça-feira (4), foi registrado por Junior Lisboa Gomes, de 19 anos, e
postado em uma rede social. No vídeo, um homem e uma mulher narram a mensagem na porta do rapaz: “vou botar aqui: ‘te pego!’ Está ótimo”.
Desabafo
feito pelo estudante de direito de uma faculdade de Brasília em uma
rede social, sobre as agressões homofóbicas dos vizinhos (Foto:
Facebook/Reprodução)
Os três alugam quitinetes de um prédio do Núcleo Bandeirante.
De acordo com Gomes, o convívio era pouco, mas cordial, até novembro do
ano passado. Depois das seguidas agressões, ele nunca mais falou com os
vizinhos e decidiu arrumar as malas e voltar para a casa da mãe, no Rio
de Janeiro.
“Sempre foi muito tranquilo. Eu morava lá há um ano e minha rotina era
estudar e trabalhar. Eu saía cedo, chegava tarde. Pouco era notado”,
explica. “Só que um dia colocaram um prato de macumba na porta dessa
vizinha. Eu nem estava em Brasília, tinha ido a um show em Goiânia. Mas, sabe-se lá por qual razão, ela entendeu que havia sido eu, e tudo começou.”
A primeira agressão chegou por mensagem de celular, com a acusação e a ameaça: “você mexeu com a pessoa errada. Fica esperto, agora você vai pagar as consequências”. Incomodado com a situação, o estudante foi à delegacia da região registrar ocorrência, mas ouviu que não valia à pena fazer aquilo.
“O policial disse que ela deixou muito claro a mensagem que queria me passar, mas que a orientação era para eu dar um tempo para isso. Que era só desentendimento de vizinho. Que ela ficou nervosa naquela hora, mas que isso passaria. E que eu teria dificuldades para provar para um juiz quem realmente estava exagerando ou o quê”, conta o jovem.
Poucos dias depois, chegando do trabalho, ele notou as primeiras ofensas feitas porta de casa, com lápis de cor: “bicha”, “fica esperto”, “não esqueci de você”. Temendo a reação dos outros vizinhos e envergonhado pela situação, Gomes apagou os escritos nas paredes. A situação se repetiu, e o rapaz afirma que foi ficando cada vez mais “escondido” dentro da própria casa.
Além dos escritos, o estudante relata que também passou a ter a porta chutada e esmurrada por amigos do vizinho, que iam para a casa dele beber no final de semana.
“Eles esmurravam, gritavam ‘sai daí, viadinho, que a gente vai te pegar e te mostrar o quanto é bom ser viadinho’. Teve um dia que estava chegando e dei de cara com eles. O vizinho me empurrou e me mandou ficar esperto, e o amigo dele me chutou.”
Em dúvida sobre procurar a polícia novamente e sem condições de mudar de casa, Gomes decidiu instalar uma câmera falsa na porta do apartamento para intimidar os vizinhos. “Isso tudo me deixou com muito medo. Comecei a ficar mais quieto dentro do meu apartamento. Fiquei neurótico, de olho no olho mágico sempre. A câmera assustou um pouco, porque não picharam mais. Por outro lado, falavam alto, da porta da casa deles, sobre mim, sobre o local em que trabalho, sobre a minha rotina. O tom de ameaça era claro. Eles chegaram a comentar que às 9h eu pegava o ônibus para a L2 Norte na parada tal.”
“É muito difícil quando você passa por uma situação como essas. [Quando] Você, com o emocional abalado, tenta procurar ajuda, e as pessoas que poderiam te ajudar, que deveriam investigar, se omitem e dizem que você é que deve investigar, deve levar as provas. É como se elas duvidassem de você, algo como tanto faz. Como se não fosse isso, como se fosse mentira”, completou.
O estudante conta ainda que os vizinhos passaram a ligar no trabalho dele e perguntar se lá havia “um viado sem-vergonha” e a depositar, na caixa do correio, cartas digitalizadas com mensagens ofensivas. “Eles diziam que precisavam chamar o dono do apartamento, que não podiam me deixar ficar lá. Questionavam como uma família moraria perto de mim. Era como se eu tivesse uma doença contagiosa. Falavam que iam me tirar de lá, na pressão.”
Junior Lisboa Gomes, estudante de direito de
faculdade de Brasília (Foto: Facebook/Reprodução)
Nesta semana, segundo Gomes, a dupla apareceu na porta dele se
questionou se ele ainda estaria morando lá. O vizinho, então, arrancou a
suposta câmera. “Ele disse que nunca mais me viu, mas que dava para
perceber que minhas coisas ainda estavam lá. E disse: ‘ah, uma hora ele
vai ter que voltar para pegar as coisas dele, então a gente acerta as
coisas. Ele não vai conseguir se esconder da gente’. Fiquei
desesperado.”
Pouco depois, os vizinhos voltaram e fizeram a terceira sessão de pichações, com caneta usada para escrever em CD. A ação terminou pouco depois das 23h, e a dupla ainda cogitou passar a madrugada aguardando para ver se o estudante apareceria.
“Fiquei assustado, com muito medo mesmo. Aí, por volta de 2h, mais ou menos, abri a porta com todo cuidado e li o que eles escreveram. Eu me senti muito mal, muito mal mesmo. Qualquer pessoa que subisse no prédio daria de cara com a minha porta. ‘Olha a vergonha que vou passar’, pensei. Todo mundo vai ficar vendo isso, rindo da minha cara. Com que cara vou olhar para eles?”, diz. Gomes ainda tentou usar tinta guache para disfarçar as ofensas.
Gomes diz que ainda não sabe o que vai fazer. “Quando saí daí, minha intenção era ser o mais amável com a minha mãe e ficar aqui [no RJ]. Era largar tudo, emprego, faculdade, começar outra vida. Achei que não tinha mais jeito para mim em Brasília. Depois recebi apoio, gente dizendo que não era eu o errado, que não era eu o problema, que não é minha culpa.”
fonte: G1


A primeira agressão chegou por mensagem de celular, com a acusação e a ameaça: “você mexeu com a pessoa errada. Fica esperto, agora você vai pagar as consequências”. Incomodado com a situação, o estudante foi à delegacia da região registrar ocorrência, mas ouviu que não valia à pena fazer aquilo.
“O policial disse que ela deixou muito claro a mensagem que queria me passar, mas que a orientação era para eu dar um tempo para isso. Que era só desentendimento de vizinho. Que ela ficou nervosa naquela hora, mas que isso passaria. E que eu teria dificuldades para provar para um juiz quem realmente estava exagerando ou o quê”, conta o jovem.
Poucos dias depois, chegando do trabalho, ele notou as primeiras ofensas feitas porta de casa, com lápis de cor: “bicha”, “fica esperto”, “não esqueci de você”. Temendo a reação dos outros vizinhos e envergonhado pela situação, Gomes apagou os escritos nas paredes. A situação se repetiu, e o rapaz afirma que foi ficando cada vez mais “escondido” dentro da própria casa.
Além dos escritos, o estudante relata que também passou a ter a porta chutada e esmurrada por amigos do vizinho, que iam para a casa dele beber no final de semana.
“Eles esmurravam, gritavam ‘sai daí, viadinho, que a gente vai te pegar e te mostrar o quanto é bom ser viadinho’. Teve um dia que estava chegando e dei de cara com eles. O vizinho me empurrou e me mandou ficar esperto, e o amigo dele me chutou.”
Em dúvida sobre procurar a polícia novamente e sem condições de mudar de casa, Gomes decidiu instalar uma câmera falsa na porta do apartamento para intimidar os vizinhos. “Isso tudo me deixou com muito medo. Comecei a ficar mais quieto dentro do meu apartamento. Fiquei neurótico, de olho no olho mágico sempre. A câmera assustou um pouco, porque não picharam mais. Por outro lado, falavam alto, da porta da casa deles, sobre mim, sobre o local em que trabalho, sobre a minha rotina. O tom de ameaça era claro. Eles chegaram a comentar que às 9h eu pegava o ônibus para a L2 Norte na parada tal.”
“É muito difícil quando você passa por uma situação como essas. [Quando] Você, com o emocional abalado, tenta procurar ajuda, e as pessoas que poderiam te ajudar, que deveriam investigar, se omitem e dizem que você é que deve investigar, deve levar as provas. É como se elas duvidassem de você, algo como tanto faz. Como se não fosse isso, como se fosse mentira”, completou.
O estudante conta ainda que os vizinhos passaram a ligar no trabalho dele e perguntar se lá havia “um viado sem-vergonha” e a depositar, na caixa do correio, cartas digitalizadas com mensagens ofensivas. “Eles diziam que precisavam chamar o dono do apartamento, que não podiam me deixar ficar lá. Questionavam como uma família moraria perto de mim. Era como se eu tivesse uma doença contagiosa. Falavam que iam me tirar de lá, na pressão.”

faculdade de Brasília (Foto: Facebook/Reprodução)
Pouco depois, os vizinhos voltaram e fizeram a terceira sessão de pichações, com caneta usada para escrever em CD. A ação terminou pouco depois das 23h, e a dupla ainda cogitou passar a madrugada aguardando para ver se o estudante apareceria.
“Fiquei assustado, com muito medo mesmo. Aí, por volta de 2h, mais ou menos, abri a porta com todo cuidado e li o que eles escreveram. Eu me senti muito mal, muito mal mesmo. Qualquer pessoa que subisse no prédio daria de cara com a minha porta. ‘Olha a vergonha que vou passar’, pensei. Todo mundo vai ficar vendo isso, rindo da minha cara. Com que cara vou olhar para eles?”, diz. Gomes ainda tentou usar tinta guache para disfarçar as ofensas.
saiba mais
Depois, o estudante negociou folga de uma semana com o chefe e viajou
para o RJ. O caso ainda não foi registrado na Polícia Civil, mas foi
encaminhado pelo Disque 100 para a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República. O G1 entrou em contato com as duas organizações, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.Gomes diz que ainda não sabe o que vai fazer. “Quando saí daí, minha intenção era ser o mais amável com a minha mãe e ficar aqui [no RJ]. Era largar tudo, emprego, faculdade, começar outra vida. Achei que não tinha mais jeito para mim em Brasília. Depois recebi apoio, gente dizendo que não era eu o errado, que não era eu o problema, que não é minha culpa.”
fonte: G1
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