
BRASÍLIA
- Após um dia tenso, com tumulto, cones arremessados contra a polícia e até
mesmo gás de pimenta para conter manifestantes, o plenário da Câmara dos
Deputados rejeitou na madrugada desta quarta-feira a proposta de emenda
constitucional (PEC) que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. O
resultado foi apertado. Faltaram apenas cinco votos para aprovar a proposta.
Foram 303 votos favoráveis, 184 contra e três abstenções. Como é uma proposta
que muda a Constituição, ela precisava do apoio de três quintos dos deputados,
ou seja, 308 dos 513. Embora negue, o resultado foi uma derrota para o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deu apoio para que a
proposta, apresentada em 1993, pudesse finalmente ser aprovada.
Na
votação que rejeitou a proposta de emenda constitucional que reduziria a
maioridade penal PMDB, DEM, PP, PR, PTB votaram em peso à favor da PEC. Já o
PT, PCdoB foram majoritamente contrários à proposta. No PMDB, partido do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foram 43 votos a favor e 17 contra,
além de uma abstenção. No PSDB, principal partido de oposição, 46 deputados
votaram a favor da PEC e cinco a rejeitaram. Faltaram justamente cinco votos
para que a proposta pudesse ser aprovada. Os tucanos contrários à PEC foram
Betinho Gomes (PE), Eduardo Barbosa (MG), João Paulo Papa (SP), Mara Gabrilli
(SP) e Max Filho (ES).O PT, como era previsto, votou em peso contra a redução.
Dos 61 deputados que participaram da sessão, 60 se posicionaram contra a PEC e
apenas um - Weliton Prado (MG) - foi favorável.
Cunha
(PMDB-RJ), que articulou a votação da PEC da maioridade penal, derrotada pelo
plenário da Casa, disse que a análise do assunto "está muito longe de
acabar". Por uma questão regimental, o plenário tem que examinar o texto
original da PEC, apresentada em 1993 pelo ex-deputado Benedito Domingos
(PP-DF), depois que o substitutivo do deputado Laerte Bessa (PR-DF) foi
rejeitado. Cunha afirmou que não colocará a PEC original em votação nesta
quarta-feira, para que haja tempo de os deputados se articularem para
apresentar eventuais emendas ou modificações ao texto, que deve enfrentar mais
resistências, uma vez que ela prevê a redução da maioridade para todos os
crimes. Parte dos deputados que aceitam votar o relatório de Bessa - que
estipula a diminuição da maioridade paras os crimes hediondos e outros
considerados mais graves - não quer a redução para todos os casos. Pela
previsão do presidente, a matéria poderá voltar à pauta na semana que vem ou no
segundo semestre.
—
Apesar de o governo ter trabalhado contra, ter todo tipo de movimentação, foram
303 votos (favoráveis), número representativo, o que mostra que o tema é
polêmico — afirmou Cunha. — Se na votação do texto original com alguma
aglutinativa atingir o quórum, ótimo.
Ao
final da sessão, os deputados contrários à redução da maioridade pediram que a
PEC original fosse votada logo. Eles temem que ocorram o mesmo que se deu na
votação do financiamento privado de campanha, quando o texto foi vencido no
plenário e, no dia seguinte, Cunha o colocou, fatiado, para ser votado,
surpreendendo a todos. Na ocasião, ele conseguiu apoio para aprovar o
financiamento para partidos.
O
líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), comemorou a vitória
apertada, destacando que o governo começará a trabalhar, a partir desta
quarta-feira, no aperfeiçoamento do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). A
ideia é agilizar a votação de projetos para aumentar a pena dos adultos que
cometem crimes com menores e aumentar o tempo de internação de três para oito
anos no máximo.
O
deputado Heráclito Fortes (DEM-PI) subiu à tribuna da Câmara, momentos antes de
o resultado da votação da maioridade penal ser anunciado, para avisar que se
absteve de votar motivado pelo fato de ter sido derrubado no chão pelos
manifestantes.
—
O episódio de hoje (terça-feira) contribuiu para a decisão que tomei. Talvez vá
primeira vez na vida eu tenha votado abstenção — disse Fortes.
O
deputado afirmou ter sido do movimento estudantil e compreender que "essas
coisas acontecem", mas afirmou que "não justifica" a maneira
como os manifestantes agiram.
O resultado da votação foi comemorado com
hostilidades dirigidas pelos manifestantes que estavam na galeria a Cunha.
"Oh, Cunha, preste atenção, a sua hora vai chegar", gritaram. O
presidente da Câmara pediu respeito e, não sendo atendido, mandou que os
manifestantes fossem retirados.
Fonte: O Globo
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